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Três meninos atrevidos que fizeram história no Sinditrigo-PR

 Texto de autoria de Mario Venturelli, Roland Guth e Romeu Massignan por ocasião das comemorações dos 70 Anos do Sinditrigo-PR

 

 O ano era 1967...

 

 Toda a classe moageira, ou pelo menos boa parte dela,  foi surpreendida por um decreto-lei, o de número 210. Começava então uma nova ordem na moagem de trigo do Brasil, com compra e venda do trigo exclusivamente pelo Governo, o que configurava um monopólio estatal. Nessa mesma época começou a ter curso um movimento -  liderado por Mario Venturelli, do Moinho Globo e Décio Vergani, do Moinho Pontagrossense, ao qual veio somar Roland Guth, do Moinho Carlos Guth, Severino Massignan, pai de Romeu Massignan, Moinhos Tupy de União da Vitória e Irmãos Massignan & Cia, de Pinhais -  para dinamizar as ações e procedimentos do Sindicato do Trigo no Paraná, até então presidido pelo Dr. João Chalbeau Biscaia, que também gerenciava os negócios do Moinho Matarazzo no Estado.

E também outros empresários se juntaram à causa, como Nimar Barbosa Nicolau, do Moinho Curitibano e Paulo Walmor Kümmel ,  do Moinho Arapongas.

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 Todos eles convenceram  Biscaia a convocar eleições para a uma nova diretoria do Sindicato, sendo eleito para um mandato tampão o moageiro Nimar. Na sequência Roland Guth assumiu a presidência da entidade. Iniciou-se então uma fase de muito trabalho no desenvolvimento dos moinhos do  Paraná. Principalmente por ocasião das vistorias de aferição da capacidade de moagem de cada moinho. Foram prestimosos os argumentos e a tenacidade de Paulo Kümmel numa destas vistorias, a do Anaconda, defendendo os procedimentos técnicos de avaliação das máquinas de peneiramento, que estavam sendo questionados pelos fiscais do Dtrig.

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 Paulo Kümmel interveio a favor do Moinho Anaconda com um argumento irrefutável: vamos funcionar o moinho com e sem as máquinas de peneiração. Se comprovada  sua eficiência era indispensável e estavam corretamente adequadas. Era a prova cabal da lisura de procedimento, incontestável e o moinho Anaconda teve sua vistoria aprovada. Foi a primeira vez que os membros da comissão de vistorias aceitaram argumento de um membro moageiro, pois sempre os membros do Governo decidiam sozinhos. O exemplo de solidariedade de Paulo Kümmel e sua liderança introduziram modificações nas novas vistorias do Governo.

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 Quem exercia um trabalho dedicado e se dispunha a fazer as viagens para Rio de Janeiro e São Paulo, para contato com as autoridades e moageiros de trigo eram Roland Guth, Mário Venturelli, Décio Vergani e Romeu Massignan, que utilizavam recursos próprios porque o Sindicato não tinha caixa para suportar despesas, eis que vivia quase exclusivamente da contribuição sindical.

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Parcerias importantes

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 Em 1969 houve um contato com o vice-presidente do Grupo Bunge, Celestino Sotto Rey, e o advogado e representante da Bunge, em Brasília, perante as autoridades do Executivo e Congresso Nacional, o inteligente e dedicado Dr. João Tamer, que nos apresentou aos membros do Sindicato da Indústria do Trigo do Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Foi um período muito profícuo de trabalho constante e formamos um grupo dos três sindicatos  - Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul -  para resolver os problemas comuns, que foi de um êxito estrondoso, com reuniões conjuntas e constantes em Porto Alegre, Joaçaba e Curitiba.

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 Muitos problemas dos moinhos foram resolvidos perante as autoridades devido à força e união dos três sindicatos, os mais atuantes do país junto com os Sindicatos do Trigo de São Paulo e Rio de Janeiro.

A partir dessa época os lideres atuantes do Sindicato do Paraná, Roland Guth, Mario Venturelli e Romeu Massignan foram apelidados por Sotto Rey, da Bunge, como os “ “Meninos Atrevidos”, dada a ousadia com que atuavam perante as autoridades.

 Foi nesta época que nasceram as articulações para a criação da Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo),  que levaram  Sotto Rey a confidenciar que sem o Paraná não poderia ser  criada uma  associação nacional, pois seria uma associação só de Bunge,  referindo-se aos vários moinhos da Bunge no país. A partir de 1975 desenvolveu-se um estudo sobre a participação dos moinhos do Paraná em comparação com os demais Estados. São Paulo e Paraná formavam a 7ª Zona de consumo de trigo, com regras rígidas e imutáveis estabelecidas pela legislação do decreto lei 210.

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Em busca de solução

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 Em suas pesquisas no Diário Oficial da União, Dr Mario  Venturelli descobriu uma portaria do Departamento do Trigo da SUNAB, na Associação Brasileira de Imprensa (ABI), no Rio de Janeiro - que possuía em sua biblioteca catalogada todos os diários oficiais - outorgando maior quantidade de trigo para os moinhos de Belém do Pará por causa da Festa religiosa denominada “Círio de Nazaré”, quando a cidade aumentava de população durante os festejos e havia necessidade de destinar maior quantidade (cota extra de trigo) para os moinhos darem conta de maior consumo momentâneo de farinha!

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 Era apenas uma farsa e desculpa dos moinhos interessados em receber mais trigo, com a conivência das autoridades. Isto era uma excelente descoberta, pois quebrava todos os parâmetros da rígida legislação do decreto-lei n. 210/67, já que havia uma cota de trigo móvel, ao contrário do estabelecido na Lei, que eram cotas rígidas. O mais importante é que o instrumento legal que autorizava a cota extra era uma portaria. Imagine uma portaria alterando um decreto-lei! A partir daí os três meninos atrevidos passaram a analisar uma solução para quebrar a rigidez das cotas destinadas ao Paraná e São Paulo. Eram necessários argumentos sólidos, com fundamentos econômicos relevantes.

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 O Estado de São Paulo consumia anualmente uma cota de aproximadamente 900 mil toneladas de trigo por ano, com trigo importado e complementado com trigo nacional produzido no Paraná. Por sua vez, o Paraná consumia uma cota de aproximadamente 100 mil toneladas por ano, sendo que mais de 90% era de trigo paranaense. O consumo anual de farinha no estado de São Paulo era equivalente a 600 mil toneladas de trigo, sendo que 300 mil toneladas eram exportadas em formato de farinha para outros estados, principalmente o Paraná, que consumia o equivalente a 150 mil toneladas de trigo de importação de farinha, além das 100 mil toneladas de moagem própria, totalizando 250 mil toneladas/trigo em grão.

 

 Os três meninos atrevidos, Guth, Mário e Romeu, quase  todo início de noite passavam algumas horas em reunião no escritório de advocacia de Mario, analisando a situação para encontrar uma justificativa para conseguir mais quotas de trigo para todos os moinhos do Paraná, em igualdade de condições. Nessas reuniões geralmente rolava um bom uísque, de diversas marcas.

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Uma ligação do governador

 

 Uma tarde, Mario estava em seu escritório e recebeu um telefonema. Do outro lado da linha a pessoa se apresentou como sendo o governador Emílio Gomes, do estado do Paraná. Pensando que era trote, respondeu com um palavrão e desligou  o telefone. Minutos depois uma ligação do  chefe da Casa Civil anunciou que o governador gostaria de falar ele. Atendeu,  receoso de levar um “pito”, mas o Governador foi cordial e o convidou para ir ao Palácio naquele momento, para onde imediatamente se dirigiu. Lá chegando o governador o recebeu  e disse que seu nome foi recomendado por Eloy Gomes, do CTRIN, do Banco do Brasil e precisava conversar para saber como estava a situação do trigo.

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 Ele queria entender o problema que impedia maior moagem no Estado do Paraná. No final disse que o secretário da Indústria e Comércio, Gonzaga Pinto, seria a pessoa indicada para ajudar. Roland Guth, Mario e Romeu Massignan foram conversar com o secretário e sua assessoria, tendo resultado bons estudos sobre o assunto. O secretário-geral, Rogerio Berger, e dois assessores deram preciosa ajuda e fundamentos econômicos nos estudos para encontrar uma solução. Finalmente, Roland Guth, Mario e Romeu encontraram uma solução com ajuda do Rogério Berger e seus dois assessores. Era o Governo Geisel e havia uma crise de petróleo em que o preço chegou a quadruplicar. O trigo era transportado do Paraná para São Paulo, em caminhões, onde era industrializado e retornava ao Paraná em forma de farinha. A ida do trigo e a volta em farinha exigia um grande gasto em óleo diesel. Este seria um argumento a  favor do Paraná, que foi denominado de “Passeio do Trigo”.

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 Pronta a tese passou-se a redigir a minuta de portaria para permitir que fosse aumentada a quota de trigo para os moinhos do Paraná, até alcançar a quantidade de consumo da população do estado. Isto permitiria, através da excepcionalidade de cota extra - tal qual a situação dos moinhos de Belém do Pará -  destinar maior quantidade de trigo aos moinhos do Paraná para atender o consumo de sua população. 

Nessa época, havia mudado o governo do Paraná e o governador passou a ser Jaime Canet Júnior, com quem se iniciou um relacionamento através de  seu secretário, Afonso Alves de  Camargo, que era deputado federal, um político muito experiente e sócio do  cunhado de Mári Venturelli, engenheiro Ney Benghi na empresa Habitação S.A.

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Reforço presidencial

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 O teatro Guaíra havia pegado fogo, sua reconstrução estava terminando e Jaime Canet Junior convidou o presidente Geisel para a reinauguração. O Sindicato foi convocado para redigir um ofício apresentando uma reivindicação sobre maior quota de trigo e, além do ofício - que não podia ter mais que uma página -  foi redigida também uma minuta de portaria a ser assinada pelo diretor do Departamento do Trigo, da Sunab, para aumentar as quotas de trigo dos moinhos do Paraná.

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 No momento da inauguração, após o discurso do presidente, o governador tirou do bolso do paletó e lhe apresentou os papéis, que não foram lidos. O presidente Geisel pediu que o governador ficasse de costas e apoiando os papéis escreveu: Ao Ministro da Agricultura. Imediatamente, os três saíram  e foram jantar no restaurante árabe Clube Sírio Libanês, no alto da Rua XV de Novembro, que estava preparado para o banquete do presidente e a proprietária conseguiu um lugar, antes do banquete, onde puderam jantar rapidamente e sair. Degustaram os pratos que seriam servidos a seguir para o presidente e convidados...

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 Deus seja louvado, quanta sorte numa única noite! No dia seguinte foram  convocados pelo governador Jaime Canet que entregou a eles os documentos dizendo: agora é com vocês.

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Mas a luta continuou

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 Na sequência foram ao Rio de Janeiro, no Departamento de Trigo da Sunab entregar os papéis, assinados pelo presidente, diretamente ao diretor do Depto do Trigo, Louis Henry Guitton, que os leu, surpreso e incrédulo. Mas o tempo foi passando e a tal da portaria não se concretizava. Roland estava voltando de mais uma viagem ao Rio de Janeiro e havia adiantado a Mario e Romeu que estava difícil de convencer o pessoal do Dtrig. Enquanto aguardavam a chegada do Roland, Mario e Romeu esboçaram um telex a ser enviado ao então presidente General Ernesto Geisel.

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 O texto foi ficando cada vez mais contundente, à medida que o tempo passava e as doses iam se repetindo. Até que perguntaram-se: será que o alemão, Roland, assina?

Quando chegou, sem pestanejar ele assinou!!!

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 Algum tempo se passou e este telex foi visto na mesa de um alto funcionário do trigo com despacho de caneta vermelha: Ao Ministro da Agricultura: Cumpra-se! General Ernesto Geisel.

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 Finalmente a luta de tanto tempo se coroava de êxito!

O atrevimento valeu!

 

 Quinze dias depois os moinhos do Paraná já estavam recebendo trigo em maior quantidade e no final daquele ano os moinhos do Paraná já tinham moído aproximadamente 170 mil toneladas! Nos anos seguintes chegamos a 400 mil toneladas/ano. O trabalho desenvolvido nesses longos anos foi árduo e complexo para organizar todos os interesses dos moinhos associados, muito facilitado pelo espírito de camaradagem e objetivo comum: moer mais trigo e abastecer a demanda de consumo da população paranaense dentro de um mercado livre, prevalecendo a concorrência sadia e produtiva.

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 Valeram tantos anos de atribulações e boas recordações que três meninos atrevidos puderam realizar em prol da comunidade moageira e do nosso querido Paraná.

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